sexta-feira, 29 de julho de 2016

Equilíbrio

Não é fácil manter o pêndulo do equilíbrio na sua posição correta. Em inglês, a palavra para equilíbrio é “balance”, que na língua portuguesa sugere movimentos, como uma gangorra ou balanço de um parque infantil. A arte de “balancear” a vida é desafiadora.

Uns comem demais. Neuroticamente se tornam devoradores, vorazes, gulosos. O corpo entra em colapso pelo excesso de proteína e carboidrato. Outros comem de menos, ou se recusam a comer, comem pouco ou mau. As disfunções neuróticas brotam a partir da obsessão por uma imagem distorcida de si mesmo e a disfuncionalidade surge em seus casos extremos com a bulimia, anorexia e a fobia à alimentação. Alimentar-se moderadamente é saudável e bom, mas ficar obcecado por comida e transformar-se num guloso compulsivo é péssimo; por outro lado, a obsessão por regime ou corpo perfeito é doentio. Em ambos, perde-se o equilíbrio.

Uns se desequilibram quanto ao uso do dinheiro. Por um lado, surgem os acumuladores e avarentos, que mesmo tendo o suficiente não sabem usar seus recursos. Não possuem o dinheiro mas são possuídos por ele. De outro, encontram-se os perdulários, consumistas e gastadores vorazes, que compram o que não precisam, com dinheiro que não tem, para impressionar pessoas que não gostam. Estes fazem a alegria das agências financeiras e sistemas bancários, já que estão sempre no limite do cheque especial e cartão de crédito. Nos dois casos, o desequilíbrio está presente.

As disfunções não existem apenas na comida e dinheiro. Podem surgir na educação dos filhos: uns adotam uma disciplina rígida, legalista, rígida; outros tornam-se frouxos e liberais, que nunca conseguem contrariar e disciplinar seus filhos. No sexo, uns são relativistas e promíscuos; outros, optam pela abstinência e castração. No uso do tempo, alguns são criteriosos, organizados, obcecados por horário e adoecem por isto; outros são desorganizados e irresponsáveis. Até mesmo na espiritualidade podemos encontrar desequilíbrio. Uns são fanáticos, ascetas; outros, cínicos e indiferentes. Em todos estes exemplos vemos como o pêndulo oscila perigosamente para um lado ou para outro.

Outro ponto que podemos considerar é que, geralmente, não percebemos as rotineiras oscilações. Achamos que nossa atitude não é tão grave assim, e nos justificamos, sem perceber que pequenos desequilíbrios podem trazer graves distorções. Qualquer que seja o nível de nossa “labirintite existencial”, corremos risco. O problema é que nunca temos suficiente equilíbrio em todas as áreas.

Quando encontramos equilíbrio, os movimentos do balanço, não pendem excessivamente para um lado para o outro. Podem temporariamente se desorganizar, mas logo surge a necessidade de  recuar, refletir e trazer o corpo e a mente para o ponto central do fulcro. Só assim poderemos nos divertir, sem sermos inconsequentes, entendendo que às vezes a gangorra vai para um lado ou para o outro, mas há sempre um lugar central, onde o pêndulo pode reorganizar-se.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Afinal, em que cremos?




A questão da fé é quase unânime em alguns países e está presente em todas as culturas. A Polônia é um dos países onde, estatisticamente, mais pessoas creem em Deus (97%); seguido pelo Brasil (95%). A República Checa está em último lugar na pesquisa, já que apenas 37% afirmam crer em Deus.  A questão mais fundamental certamente não é se cremos ou não, mas, no que, afinal, cremos.
Superstição e crendice são expressões de fé. Podem ser antropologicamente classificadas de infantis, mas são formas de espiritualidade. Quando as pessoas afirmam que “o que importa é ter fé”, nem sempre estão avaliando o que realmente declaram. Por exemplo, Deus existe para 95% dos brasileiros, mas 51% também creem em mau olhado.
Veja como isto reflete na estatística. Embora quase toda a população polonesa afirme que crê em Deus, apenas 81%  creem em vida após a morte. No Brasil, apenas 58%. Não parece quase um contrassenso crer em Deus e ainda assim pensar que a vida acabe num túmulo?
No entanto, precisamos considerar qual o significado de crer em Deus. Na verdade crer em Deus não é alguma coisa tão importante, considerando que as concepções sobre Deus são absolutamente ambíguas e distintas. Existe até mesmo um conhecido texto da Bíblia no qual o apóstolo Tiago indaga: “Crês tu que Deus é um só? fazes bem. Até o diabo crê e treme”. Crer em Deus, na verdade, não parece realmente ser de grande relevância.
Certa feita aconselhei uma jovem, que veio dizer que não cria em Deus e que odiava a Deus. Eu disse que as duas afirmações eram contraditórias, porque se você não crê, não pode odiar. Não é coerente odiar alguém que não existe. Ela concordou que cria em Deus, mas estava com raiva de Deus, porque Ele a frustrara. Fazia sentido.
Outra pessoa, também amargurada, falou-me durante um bom tempo sobre Deus descrevendo-o como um ser impiedoso, desnaturado, cruel e mau. Eu a ouvi pacientemente, percebendo sua dor, mas no final declarei que precisávamos de uma melhor definição do seu Deus, porque a descrição daquele Deus, era, na verdade, o que as Escrituras Sagradas chamavam de Satanás. O Deus dela era o meu demônio. 
No Decálogo, O Primeiro Mandamento é claro: “Não terás outros deuses diante de mim”. Não é interessante observar que a recomendação de Deus não era contra o ateísmo, mas o politeísmo? Neste principio, não há qualquer exortação contra a falta de fé em um Deus, mas o risco de falsos deuses e ídolos, que facilmente usurpam o lugar do Deus verdadeiro.
O Brasileiro, com seu panteão de deuses, facilmente constrói seu cardápio religioso combinando elementos de diversas religiões, e facilmente pode conviver com duplicidade religiosa.

Talvez o que precisamos analisar não é se cremos em Deus, mas quem é o Deus em quem cremos? Entre o povo de Deus havia os canaanitas, criam em deuses de pedra e se curvavam diante dele. O homem moderno, mais sofisticado, constrói altares a outros deuses mais exigentes. Se você quiser saber qual é o Deus que domina seu coração, pergunte a si mesmo: “O que eu confio, temo, amo e desejo mais que o próprio Deus”. Deus é aquilo que controla seu coração.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Tempo



Muito provavelmente você tem vários relógios e quatro ou cinco calendários em sua casa, e ainda celulares modernos com todo tipo de agenda, alarmes, datas a serem lembradas, compromissos marcados e telas de computadores para avivar sua memória sobre um encontro. Recentemente um amigo meu estava encantado com um software que estava revolucionando sua vida.

Existe um texto em Eclesiastes 3.1-8, no qual, em apenas oito versículos, nele encontramos a palavra “tempo” cinco vezes. Ele afirma que os eventos da vida não acontecem por acaso, e que Deus tem um propósito em cada um deles, mesmo naqueles fatos assustadores. Deus nunca perdeu o controle da história, e os céus nunca foram pegos de surpresa. Nenhum fato surpreendeu a Deus de tal forma que ele colocasse a mão na boca, admirado de que não soubesse o que estava acontecendo.

As estações de plantação e colheita foram estabelecidos por Deus. Deus nunca deixou de dar testemunho de si mesmo na história, enviando-nos chuva e estações frutíferas. Ele estabeleceu a “agenda” das estações que vem e vão rapidamente. Alguém afirmou: “Se você não é capaz de rir em tempos de tribulação, você não terá nenhum motivo para sorrir quando envelhecer”. As coisas que hoje nos assustam, transformam-se em experiência, nos humanizam, ainda que não nos tragam, no presente, qualquer sentimento bom.
O uso do tempo revela prioridades. Muitas pessoas afirmam que há tempo para tudo, mas a Bíblia ensina outra coisa. “Para todo propósito há tempo e modo”. Percebem a ideia? Não há tempo para tudo, mas quando se tem propósito encontra-se o tempo. Tempo é questão de foco e prioridade. Geralmente gastamos tempo naquilo que consideramos mais importante, mesmo quando usamos o tempo movidos por medo, angústia, ansiedade e raiva.

Quando há propósito, encontra-se o tempo. 
Tempo é uma questão de prioridade.

Não é raro encontrar pessoas dizendo que quiseram fazer algo ontem mas não encontraram tempo. Na verdade o tempo estava lá, disponível, mas a desorganização ou coisas mais urgentes, prioritárias, relevantes ou importantes consumiram o tempo. Imagine que sua agenda esteja apertada e saturada, mas surge uma proposta de negócio que você sabe que será altamente lucrativa. O que vai acontecer? Você vai remanejar sua agenda de tal forma que encontrará tempo necessário para avaliar e conversar sobre o assunto.


Percebem como o tempo aparece quando se tem propósito? Então, da próxima vez, pense muito antes de dizer: “Não tenho tempo!” Talvez seja melhor dizer: “Tenho tempo, mas estou priorizando algumas coisas que, no momento, são mais importantes”. Não há problema algum em ter prioridades, mas isto nos ajudar a refletir melhor onde estamos gastando preciosas horas da vida.