Minha mãe, D. Zilá, mora
atualmente em Palmas, e nesta semana completou com boa saúde, seus 80 anos de
vida. Estive lá em sua casa, junto com os demais irmãos para dar-lhe um abraço
e desfrutar de seu colo, como não poderia deixar de ser.
Viveu sempre com poucos recursos
e muita coragem. Aos dez anos de idade, presenciou a tentativa de suicídio de sua
irmã mais querida, que tinha quase o dobro de sua idade, porque vendo a sua
dor, acompanhou-a à distância pressentindo que algo ruim iria acontecer. Sua
sensibilidade infantil foi o socorro que livrou sua irmã da morte certa. Mamãe
cresceu no meio de uma família disfuncional, mas conseguiu se estabelecer e
criar ainda cinco filhos.
Depois de viver por 44 anos
na mesma chácara em Gurupi -TO, decidiram vender a propriedade porque já não conseguiam
administrá-la sem que isto gerasse grande estresse. Preocupado com o emocional
de meus pais, viajei para acompanhar esta transição e o processo de mudança.
Como bons mineiros, sempre tiveram
a casa com grande abundância de comida, e muita planta, horta e animais no
quintal. Na véspera de entregar a chácara já vendida, fomos retirar algumas
coisas e quando vi um bonito cacho de bananas disse empolgado: “Vamos levar
este cacho!” Minha mãe serenamente afirmou: “Deixa este aí, filho. É muito ruim
chegar na propriedade e não achar quase nada. Vou deixar algumas galinhas também...”
Envergonhado de minha
mesquinhez, recolhi-me silenciosa e pensativamente, considerando a sabedoria e
disponibilidade de minha mãe. Senti-me pequeno e pobre de alma com este evento,
mas ao mesmo tempo feliz em ter sido gerado no útero de alguém que considerava
a vida com tal amplitude.
É de Cora Coralina a
seguinte afirmação: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros, a
sabedoria é com a vida e os humildes. Não sei se a vida é curta ou longa demais
para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração
das pessoas”.