Utopia é algo que move o coração do ser humano. É o anseio e desejo inconsciente pelo Shangrilá, o lugar dos sonhos, idílicos: Uma praia da Tailândia, uma ilha do Caribe, Disney World, lugar onde não teremos problemas, e ninguém para nos incomodar, livre de dor, tensão, cobranças e stress.
Por causa da utopia, vivemos ansiando este dia e lugar que um dia virá, e esquecemos que a vida está acontecendo hoje, agora. Vivemos de forma provisória aguardando o definitivo, que pode ser que nunca virá. Somos infelizes aguardando aquele momento: “Quando nos mudarmos daqui, quando aposentarmos, quando fizermos aquela viagem...” Achamos interessante apenas o destino, mas esquecemos da beleza das flores na caminhada de hoje. Não celebramos a caminhada.
Existe na filosofia um aforismo clássico: “Felicidade é igual a realidade, menos expectativas!”. Quanto maior e mais sofisticados forem os desejos, maior será a possibilidade da expectativa se frustrar e nos afastarmos da felicidade. Por isto, pessoas sonhadoras e românticas sofrem mais, porque seus desejos não se concretizam. A Bíblia diz: “A esperança que se adia, faz adoecer o coração”.
Epicuro, o pai do hedonismo, e da filosofia que defendia o prazer como alvo último da existência humana afirmou que “nada é suficiente para quem considera o suficiente, pouco”. Por isto, a simplicidade seria um dos caminhos mais eficazes para se encontrar o prazer, e por isto, a felicidade. Quanto mais sofisticados os sonhos, menor a possibilidade deles se concretizarem, e menor a chance da felicidade. Nem sempre as expectativas cabem na realidade.
Uma das soluções mais simples é encontrar prazer nos processos, na caminhada. O que conta não é apenas o produto final. Não devemos ter prazer apenas no prato feito e pronto, mas no processo de selecionar a comida, lavar os vegetais, cozinhar, preparar a mesa e servir. A celebração não é apenas a mesa posta, mas a preparação da mesa.
Isto vale para vários níveis: A. Numa viagem de férias, celebrar a preparação da mala, a escolha da roupa adequada, o roteiro a ser percorrido, e não apenas o destino final; B. No casamento, não apenas o orgasmo, mas o namoro, o flerte, a conquista, o beijo, o preparo para o encontro, a expectativa. C. No cotidiano, não viver apenas na expectativa do amanhã, imaginando que o definitivo é que importa, esquecendo que o provisório, transitório, pode ser também interessante. Vamos descobrir que existem flores hoje, que a primavera já chegou, que no jardim, as plantas estão florescendo, as árvores estão dando seu fruto, que as estações mudam.
A expectativa apenas pelo amanhã, pode tirar o prazer do hoje. Viver sonhando, pode tirar a alegria da realidade de hoje. Você não pode tirar férias da vida, embora seja necessário tirar férias na vida. Curta o hoje, celebre os caminhos de hoje, ria dos equívocos de hoje. Afinal, o salmista Davi afirmou: “Este é o dia que o Senhor nos fez, alegremo-nos e regozijemos nele”.
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