Na década
de 70, Raul Seixas declarou: “Eu prefiro ser, esta metamorfose ambulante, do
que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Indo para uma posição ainda radical,
a sociedade moderna (ou a Geração Z- conhecida como nativos digitais), chegou
ao ponto de não ter opinião formada sobre nada. Nem mesmo sobre aquilo que
parece óbvio demais.
Esta
geração, saiu da dúvida metodológica para dúvida absoluta. Se antes se
relativizava o absoluto, agora se absolutiza o relativo.
É uma
situação de risco. Outrora corria-se o risco do preconceito, agora, da ausência
de conceitos. Em nome do respeito às diferenças, perdeu-se a capacidade de
desenvolver opiniões pessoais e de ter convicções claras a respeito da ética e
da vida e nega-se convicções, princípios e valores. Surge a incapacidade de
definir o certo e o errado, moral e imoral, falso e verdadeiro, construtivo e
destrutivo. Não existe algo que se considere moral ou imoral, tudo penetra o
nebuloso universo do amoral (ausência de moral), evadiu-se do campo do
legalismo para o antinomismo (ausência da lei).
Ao
considerarmos atentamente a história do pensamento humano, observamos que tal
leitura hermenêutica também estava presente bem antes de Cristo. O Profeta
Isaias (600 anos a.C.) afirma: “Ai dos
que chamam ao mal bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade, luz; e da luz,
escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo” (Is 5.20).
O que ele
percebia naqueles dias? Um determinado grupo de pessoas, intencionalmente ou
não, distorcia valores, absolutizava relativos, confundia mentira com verdade,
e era desorientada quanto aos valores e ideias, já não era capaz de discernir
entre trevas e luz ou fazer distinção entre amargo e doce. Perdia-se a
percepção, o paladar, a visão. Faltavam critérios, e isto trazia confusão,
distorção e desordem.
Numa
discussão acadêmica, o debate se tornou acalorado por causa de um tema
polêmico. Um aluno se dirige ao outro: “Você tem preconceito sobre isto?” E o
outro respondeu: “Não, eu tenho conceitos formados sobre o assunto”. Numa
sociedade relativa, pluralista e subjetivista, corre-se o risco da perda da
auto consciência e de critérios. Faltam conceitos claros em nome de uma
tolerância preguiçosa intelectual e espiritualmente.
A cidade de
Nínive, no Antigo Testamento, tornou-se notória pela sua crueldade e violência.
Deus enviou um profeta teimoso para anunciar a necessidade de mudanças. Jonas não
entendia os motivos de Deus tratar com tanta misericórdia e graça pessoas que
eram inescrupulosas, mas Deus afirma: “Como não teria eu compaixão de 120 mil
almas que não sabem discernir entre a mão direita e a esquerda?” Aquele povo tornou-se
desumano e desorientou-se porque faltava uma ética clara. A falta de valores gerou
uma nação bárbara. Este é o resultado de uma cultura que perde a noção de
valores e princípios, e que absolutiza relativos.
Existem
relativos, mas existem absolutos. Corremos o risco tanto de relativizar
absolutos quanto de absolutizar relativos.