Em
junho de 2008 tive o privilégio de ouvir o discurso de J.K.Rowling, na
formatura da Harvard. Esta escritora é considerada a mais prestigiada autora ficcional,
e também a mulher mais rica da Inglaterra pelos livros que escreveu e pela
conhecida série dos filmes de Harry Potter.
Rowling
teve uma infância pobre e optou por fazer o curso de Literatura Inglesa, apesar
da oposição dos pais que achavam que isto nunca lhe daria dinheiro para manter
suas despesas pessoais. Depois de formada, casou-se e se divorciou em seguida. Sua palestra
na Harvard Square, apesar do grande público ali presente, foi intimista e
pessoal, com um início ambíguo, já que num dia de formatura resolveu falar dos
benefícios do fracasso, que ela afirmou ser a “vida real”.
Ao
concluir seu curso na faculdade aos 21 anos seu maior temor não era a pobreza
mas o fracasso, apesar de saber, por experiência própria, que a pobreza provoca
stress, medo e algumas vezes depressão, e que “pobreza em si mesma só é
romantizada pelos tolos”.
Falando
a um público seleto, já que estudantes de Harvard, teoricamente, não fazem
parte do grupo que está acostumado ao fracasso, ela enfatizou que eles poderiam
ser dirigidos pelo medo/fracasso ou serem orientados pelo desejo do sucesso.
Ela mesma, depois de 7 anos de formada, tinha falhado numa escala gigantesca:
um casamento implodido, sem emprego e como ela definiu a si mesma “tão pobre
quanto possível na Grã Bretanha moderna, sem ser mendiga”.
Tenho
pensado muito na idéia de fracasso. É tão fácil ser atingido pela ruína. Um
negócio mal planejado ou eventualmente bem planejado, mas que enfrentou uma situação
imprevisível de uma crise econômica, pode se tornar um grande erro e consumir
os recursos adquiridos. Um casamento, feito com glamour e expectativa, pode
redundar em muitas dores, angústias e depressão. Uma boa faculdade não garante
um bom emprego e nem uma boa profissão determina sucesso. Uma reputação
cuidadosamente construída pode desmoronar num escândalo e numa atitude tola ou
impulsiva. Acima de tudo, o que é fracasso para alguns, pode não ser para
outros; determinado padrão de vida em alguns países é pobreza; em outros, luxo.
Sucesso não pode ser avaliado pelo lugar que chegamos, mas de onde saímos.
O
maior fracasso da vida, porém, está numa vida não realizada. Envelhecer sem
alegria, amargurado com as ofensas sofridas, culpando processos, economia,
pessoas e família, para mim este é o grande fracasso. O grande fracasso não é
ser pobre, com todas as variáveis decorrentes de uma vida com limites duros;
nem o de não ser popular e reconhecido. O grande fracasso é uma vida de desistência,
sem alegria, sem amigos, sem família e sem Deus.