segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Que vida Besta!




Meu pai tinha um hobbie que foi cultivado e transmitido para dois de seus filhos. Ele amava caçar, infelizmente (ou felizmente), eu fui o filho que nunca compartilhou de seu lazer, apesar de ter aprendido com ele aquele que meu hobbie preferido: pesca.

Meu pai costumava se embrenhar em matas, às vezes ficando acampado por lá até atingir o seu alvo. Em muitas destas viagens, meus irmãos o acompanharam. 

O irmão mais novo, sempre foi muito entusiasmado com estas viagens, e numa de suas primeiras experiências, ficou suspenso numa rede amarrada entre árvores, esperando que o animal viesse comer as frutinhas que caiam da árvore. Naquela noite, nenhum animal apareceu, exceto um tatu que passou longe de onde se encontravam. Ao voltar para casa, meu irmão perguntou que animal era aquele e recebeu a seguinte explicação: 

-“Quando chega a noite, alguns animais saem para comer. O tatu sai de sua toca, come e volta novamente para sua casinha”. 

Meu irmão, ainda um menino, pensou um pouco e disse: “Eles fazem isto toda noite?” 

Diante da afirmativa de meu pai ele respondeu: 
-“Que vida Besta!” 

Mais tarde descobri que esta reflexão era um veio filosófico do meu irmão, porque Carlos Drummond de Andrade fez a mesma afirmação no seu poema, Cidadezinha qualquer. 

Casas entre bananeiras 
 mulheres entre laranjeiras 
 pomar amor cantar. Um homem vai devagar. 
 Um cachorro vai devagar. 
 Um burro vai devagar. 
 Devagar... as janelas olham. 
 Êta vida besta, meu Deus. 
 De Alguma poesia (1930) 

Acho que esta visão sobre a vida revela o sentimento de milhões de pessoas que apenas trabalham para comer, comem para trabalhar, vestir e dormir; dormem para trabalhar, e vestem para comer e novamente dormem, num ciclo quase infindável de idas e vindas, cuja existência vai desembocar num túmulo frio e ridículo onde cessam todos os sonhos, desejos e frustrações. Uma vida besta, sem sentido e propósito! 

Entretanto, a vida é bem mais que comer, dormir, trabalhar. A vida adquire sentido quando encontra um Norte como referência para sua história. 

Jesus percebeu isto nos seus discípulos, e fez uma afirmação extremamente importante: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Existe alguém que pode transformar esta experiência tola de existir em uma vida plena de significado. 

Jesus afirmou: “Quem crê em mim, do seu interior fluirão rios de água viva!”. 

Não é exatamente para esta direção que nosso coração tão ansiosamente anseia caminhar?

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