Até o segundo jogo do Brasil nesta copa, uma palavra parece expressar o sentimento dos apaixonados torcedores: Frustração! Honestamente eu acho isto até positivo: O clima de já ganhou nunca foi bom, posto que ninguém ganha o jogo na véspera.
Afinal, o que aconteceu com o celebrado quarteto mágico, que pode ter de tudo e até mesmo ser quadrado, mas até agora sem nenhuma magia que gere encantamento? Onde está o aguardado encanto de Ronaldinho, que até agora deu apenas dois chutes a gols contra a Croácia e nenhum contra a Austrália, além de, literalmente, pisar na bola neste ultimo jogo?
Apesar de minha crítica, quero fazer uma defesa desta situação. Eu não gostaria de viver a pressão da eficiência que estes jogadores tem vivido. A cobrança que pesa sobre para se ter uma boa performance, ser eficiente todo tempo e atender sempre a expectativas de milhares de pessoas, ser genial, criativo e produtivo, é uma das maiores fontes de estresse.
Todos nós precisamos de espaço para o ordinário, para o comum, para vulnerabilidade e limitação, de não ter que provar nada. Creio que a tirania do sucesso é uma das mais fortes imposições sociais e uma das mais cruéis neste universo competitivo. Isto nos faz pensar que nossos filhos precisam ser competentes em todas as áreas: esporte, música, línguas, exatas, e assim, sair-se bem em todas as matérias. Por causa desta pressão, impomos uma agenda sobrecarregada de atividades sobre eles para que os mesmos alcancem eficiência e se tornem ícones. Assim fazendo, roubamos-lhes a vida e o direito de serem crianças, e isto os acompanha durante toda a vida. Entram na faculdade sob pressão e seguem assim ao disputar vaga no mercado de trabalho, sob enorme angústia em serem homens e mulheres de sucesso, acertar sempre e nunca fracassar.
Não percebemos quanto estresse isto gera neles e em nós, e quanto vazio isto provoca no coração, na mente e nos relacionamentos. Perdemos nossa própria vida, tentando achá-la.
Às vezes fico a pensar no significado das palavras de Jesus: “quem ama a sua vida, perde-a, mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preserva-la-á para a vida eterna” (Jo 12.25) O que isto quer dizer?
Creio que deixar de ser uma máquina de eficiência, ou um ser ”performático”, tem tudo a ver com este pensamento de Jesus, afinal, o grande alvo da vida não é eficiência, mas realização; não conquistas, mas doação; não aprendizado, mas plenificação, nem sucesso, mas significado, e isto se acha não no desespero louco do sucesso, mas no encontro de nossa alma inquieta e agitada com o centro maior de seu significado que é a relação com o seu criador.
Talvez se estivéssemos menos obcecados pelo sucesso, poderíamos amar mais, viver mais, comer melhor, desfrutar melhor as amizades, fazer sexo de melhor qualidade, adorar a Deus com maior disposição e disponibilizar tempo para servir aos outros com maior alegria. No entanto, estamos preocupados demais em termos e sermos sucesso, sem entender que nesta louca tensão, temos fracassado em nosso objetivo de ser gente.
quarta-feira, 21 de junho de 2006
quarta-feira, 14 de junho de 2006
Esporte e Cultura
Sempre vi o esporte como uma expressão da arte de um povo. Cultura e esporte estão sempre muito próximos um do outro. Com muita propriedade alguém já afirmou que o esporte não forma o caráter, apenas o revela.
Quando morei fora do Brasil fiquei impressionado com algumas características do esporte na cultura americana, e talvez, a partir desta leitura, tenha compreendido um pouco do pensamento americano e brasileiro.
Já viram quais são os esportes com maior poder de penetração na cultura americana? Sempre me impressionei com o wrestling, ou luta livre. Os estádios lotados, ingressos vendidos antecipadamente, canais de TV por assinatura transmitindo os eventos e milhares de americanos simplesmente apaixonados com aquela luta simulada. Se você disser que a luta livre é simulada, eles contestarão você. Afinal de contas, é uma luta. Todos sabem que os lances são treinados cuidadosamente e que, apesar da força daquele esporte, trata-se de uma luta simulada. Não para muitos americanos que crêem tratar-se de algo de vida e morte.
Não seria isto uma revelação da hipocrisia americana? A experiência parece dizer que sim. Pense num exemplo simples: Você pode beber uma cerveja na rua, desde que sua garrafa esteja dentro de uma sacola que não revela o rótulo. Se você resolver retirar a garrafa da sacola, pode ser abordado por um policial, mas se você bebê-la sem estampar o que tem dentro dela, tudo estará bem. Neste caso, esporte e cultura não estariam ai se mesclando?
Pense noutro esporte americano: O Football, ou como simplesmente chamamos de futebol americano: Um esporte de força e rapidez. Isto não revelaria um pouco da cultura que gosta de ser troglodita, trombar e lutar? Não estaria aí a gênese da sede de domínio, e a intrepidez para brigar, características estas marcantes na cultura americana?
Pense ainda no basquete, esporte no qual eles possuem a supremacia sobre outras nações. Sem dúvida, não há competidor para o nível de técnica que eles possuem. Sua habilidade técnica e precisão é algo surpreendente. Não seria isto um traço do povo americano? Uma forma de pensar e agir? De construir grandes impérios, empresas e administrar a vida?
Bem, como estou aqui tentando escrever um ensaio um tanto quanto filosófico, deixe-me arriscar alguns palpites sobre o Brasil e sua relação de paixão com o futebol. Por que ele é tão popular entre nós? Porque o mundo fica tão embasbacado com a qualidade técnica de nossos jogadores? O futebol não revelaria um elemento também cultural?
Creio que sim. O que diferencia o futebol é sua ginga, sua malandragem, seu passo desconcertante, o jeito inesperado e diferente de fazer as coisas. É o jeitinho brasileiro, de sempre querer fazer que vai mas não vai, dar a impressão de que é mas não é? Lamento informar mas os nossos gordos congressistas parecem demonstrar toda esta habilidade para o drible, para a malandragem, para a ginga. Embora não o possam fazer isto fisicamente por causa de sua característica marcantemente obesa, o fazem com galhardia no que diz respeito à dignidade e ao bem público.
Quando morei fora do Brasil fiquei impressionado com algumas características do esporte na cultura americana, e talvez, a partir desta leitura, tenha compreendido um pouco do pensamento americano e brasileiro.
Já viram quais são os esportes com maior poder de penetração na cultura americana? Sempre me impressionei com o wrestling, ou luta livre. Os estádios lotados, ingressos vendidos antecipadamente, canais de TV por assinatura transmitindo os eventos e milhares de americanos simplesmente apaixonados com aquela luta simulada. Se você disser que a luta livre é simulada, eles contestarão você. Afinal de contas, é uma luta. Todos sabem que os lances são treinados cuidadosamente e que, apesar da força daquele esporte, trata-se de uma luta simulada. Não para muitos americanos que crêem tratar-se de algo de vida e morte.
Não seria isto uma revelação da hipocrisia americana? A experiência parece dizer que sim. Pense num exemplo simples: Você pode beber uma cerveja na rua, desde que sua garrafa esteja dentro de uma sacola que não revela o rótulo. Se você resolver retirar a garrafa da sacola, pode ser abordado por um policial, mas se você bebê-la sem estampar o que tem dentro dela, tudo estará bem. Neste caso, esporte e cultura não estariam ai se mesclando?
Pense noutro esporte americano: O Football, ou como simplesmente chamamos de futebol americano: Um esporte de força e rapidez. Isto não revelaria um pouco da cultura que gosta de ser troglodita, trombar e lutar? Não estaria aí a gênese da sede de domínio, e a intrepidez para brigar, características estas marcantes na cultura americana?
Pense ainda no basquete, esporte no qual eles possuem a supremacia sobre outras nações. Sem dúvida, não há competidor para o nível de técnica que eles possuem. Sua habilidade técnica e precisão é algo surpreendente. Não seria isto um traço do povo americano? Uma forma de pensar e agir? De construir grandes impérios, empresas e administrar a vida?
Bem, como estou aqui tentando escrever um ensaio um tanto quanto filosófico, deixe-me arriscar alguns palpites sobre o Brasil e sua relação de paixão com o futebol. Por que ele é tão popular entre nós? Porque o mundo fica tão embasbacado com a qualidade técnica de nossos jogadores? O futebol não revelaria um elemento também cultural?
Creio que sim. O que diferencia o futebol é sua ginga, sua malandragem, seu passo desconcertante, o jeito inesperado e diferente de fazer as coisas. É o jeitinho brasileiro, de sempre querer fazer que vai mas não vai, dar a impressão de que é mas não é? Lamento informar mas os nossos gordos congressistas parecem demonstrar toda esta habilidade para o drible, para a malandragem, para a ginga. Embora não o possam fazer isto fisicamente por causa de sua característica marcantemente obesa, o fazem com galhardia no que diz respeito à dignidade e ao bem público.
sexta-feira, 2 de junho de 2006
Violência e sociedade
Violência tem etiologia. Não surge num vácuo histórico, nem acontece do nada. Violência tem raiz, origem, umas averiguáveis, outras não claramente distinguíveis.
Rollo May trabalha este tema de forma muito madura em seu clássico livro “Eros e violência”, afirmando que a agressividade em geral está relacionada à impotência animal, quando estes se sentem desprotegidos, tornam-se agressivos. Assim, é que um animal acuado, encurralado ou em sofrimento, pode ter reações absolutamente estranhas. O filme “O Patriota” traça este perfil, na pele de um homem pacato que vendo seu filho sendo friamente executado, torna-se um monstro, e revela uma violência que ele mesmo desconhecia.
Leonardo Boff ainda articula um conceito amplamente discutido no campo comportamental que é a “violência dos violentados”. Para ele, esta seria a violência como resposta ou a violência reativa, que brota de ambientes hostis, e muitas vezes trata-se de uma questão até mesmo de sobrevivência para aqueles que a praticam.
Arnaldo Jabor em sua análise sobre o hediondo e lamentável incidente ocorrido em Brasília na invasão que o MLST fez ao Congresso Nacional no dia 06/06/2006, foi muito feliz na sua observação afirmando que o Legislativo violentou a nação absolvendo pessoas com práticas ilegais e suspendeu sanções sobre pessoas comprovadamente corruptas; o Judiciário zombou do povo ao permitir que reconhecidos criminosos tivessem o direito de “não responder” numa Comissão Parlamentar de Inquérito, e que o Executivo tratou com descaso os sucessivos escândalos engendrados na cozinha do Palácio fazendo de conta que isto não era com eles. Esta violência dos poderosos se materializa agora na violência dos impotentes e dos partidos marginais que articulam esta nova Guerra dos Farrapos.
Tudo isto nos ajuda a ler a história, fazer hermenêutica da violência, mas precisamos lembrar que a agressão, a balbúrdia e o caos precisam ser rigorosa e exemplarmente julgados. Explicar não é justificar. Se o país mais uma vez tratar com indulgência cenas de bandidagem vamos precisar explicar outra vez, num futuro breve, novas cenas de selvageria pública que eclodirão neste país de tanta violência social.
Esperamos ainda que não sejam julgados apenas aqueles que praticaram estes recentes atos de selvageria recentes em Brasília, mas em nome da justiça e em nome de Deus, que os crimes de colarinho brancos também levem para a cadeia aqueles que tem sistematizado, “pandemizado” e “endemizado” a corrupção, outra forma de violência tão conhecida em nosso país.
Rollo May trabalha este tema de forma muito madura em seu clássico livro “Eros e violência”, afirmando que a agressividade em geral está relacionada à impotência animal, quando estes se sentem desprotegidos, tornam-se agressivos. Assim, é que um animal acuado, encurralado ou em sofrimento, pode ter reações absolutamente estranhas. O filme “O Patriota” traça este perfil, na pele de um homem pacato que vendo seu filho sendo friamente executado, torna-se um monstro, e revela uma violência que ele mesmo desconhecia.
Leonardo Boff ainda articula um conceito amplamente discutido no campo comportamental que é a “violência dos violentados”. Para ele, esta seria a violência como resposta ou a violência reativa, que brota de ambientes hostis, e muitas vezes trata-se de uma questão até mesmo de sobrevivência para aqueles que a praticam.
Arnaldo Jabor em sua análise sobre o hediondo e lamentável incidente ocorrido em Brasília na invasão que o MLST fez ao Congresso Nacional no dia 06/06/2006, foi muito feliz na sua observação afirmando que o Legislativo violentou a nação absolvendo pessoas com práticas ilegais e suspendeu sanções sobre pessoas comprovadamente corruptas; o Judiciário zombou do povo ao permitir que reconhecidos criminosos tivessem o direito de “não responder” numa Comissão Parlamentar de Inquérito, e que o Executivo tratou com descaso os sucessivos escândalos engendrados na cozinha do Palácio fazendo de conta que isto não era com eles. Esta violência dos poderosos se materializa agora na violência dos impotentes e dos partidos marginais que articulam esta nova Guerra dos Farrapos.
Tudo isto nos ajuda a ler a história, fazer hermenêutica da violência, mas precisamos lembrar que a agressão, a balbúrdia e o caos precisam ser rigorosa e exemplarmente julgados. Explicar não é justificar. Se o país mais uma vez tratar com indulgência cenas de bandidagem vamos precisar explicar outra vez, num futuro breve, novas cenas de selvageria pública que eclodirão neste país de tanta violência social.
Esperamos ainda que não sejam julgados apenas aqueles que praticaram estes recentes atos de selvageria recentes em Brasília, mas em nome da justiça e em nome de Deus, que os crimes de colarinho brancos também levem para a cadeia aqueles que tem sistematizado, “pandemizado” e “endemizado” a corrupção, outra forma de violência tão conhecida em nosso país.
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