quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Os limites do Materialismo

O economista Robert Fogel, Prêmio Nobel em Economia, escreveu interessante livro chamado The Fourth Great Awakening & The Future of Egalitarianism, (383 pp. University of Chicago Press), mostrando que economia e mudanças tecnológicas na história sempre colidiram com valores morais e produziram crises espirituais.
Um dos aspectos mais interessantes desta crise foi cognominada pelo terapeuta Stephen Goldbart de "síndrome imediata da riqueza", que é caracterizada pela "culpa excessiva" e "confusão de identidades".
Segundo Fogel, em nossa era, grandes tensões são paradoxalmente resultantes da abundância. Pessoas com maior poder de ganho tem se tornado acuadas, culpadas, ansiosas e menos capazes de desfrutar as riquezas que conseguiram gerar. O enriquecimento material, segundo ele, não necessariamente implica em plenitude de vida interior, nem cura de males sociais. Para Fogel "as grandes controvérsias de hoje são mais espirituais que econômicas".
Não é difícil ouvir isto de um pregador, de um padre ou de um idealista, mas é interessante lembrar que quem denuncia estes rumos e fala destas tensões é um economista respeitado no mundo inteiro por suas idéias.
Materialismo, curiosamente, pode ser fator de grandes contradições na alma humana. "É a preocupação com a posse, mais do que qualquer outra coisa, que impede o homem de viver livre e nobremente" (Bertrand Russel). Andrew Carnegie chegou a exclamar de forma extremamente pessimista: "morrer rico é uma desgraça". Não nos parece estranho que um homem tão rico despreze tanto aquilo que para nós parece ser uma grande fonte de alegria que são bens materiais?
Uma pessoa certa vez afirmou "Na maior parte de nossa vida é gasta comprando coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para agradar pessoas que gostamos menos ainda".
Karl Meninger conta o caso de um paciente que, sufocado por suas grandes posses procurou terapia porque sua vida já não parecia ter mais alegria nem interesse. Ele afirmou em desespero que não tinha a menor idéia do que fazer com todo o seu dinheiro. "Não preciso dele, mas não consigo suportar a idéia de dá-lo". Diante disto, Meninger o questionou: "De modo que decidiu matar-se a fim de fugir dele?" Na terapia, chegaram a conclusão de que se ele pelo menos soubesse dar parte de seus bens, boa parte de sua crise seria sanada, mas acabou não o fazendo. E Meninger concluiu: "Não fez nada. Viveu por mais alguns anos e depois morreu prematuramente, para a satisfação de seus herdeiros e sócios que ainda não tinham atingido seu estado, embora sofressem do mesmo mal". (Meninger, Karl – O pecado de nossa época, pg 146).
Abundância pode gerar ansiedade. Nós somos incrivelmente liberados para sermos autênticos conosco mesmo, mas isto pode desembocar em auto-indulgência destrutiva. O limite do materialismo esbarra naquele ponto no qual, já não conseguimos mais ser livres para viver, mas escravos do ter.

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