Um dos conceitos macro econômicos que começam a ser discutidos e a tomar corpo dentro de grandes e respeitáveis instituições de ensino no mundo empresarial de hoje é o chamado "O pensamento de abundância", uma tese defendida inicialmente na Índia e que sustenta que a economia só vai bem quando todos ganham.
Parece estranho veicular tal idéia no nosso contexto encharcado pelo pensamento capitalista que tem como regra número 1 de sua cartilha o conceito de lucratividade. “Ter lucros” é o pensamento central do sistema. No entanto, tem-se trabalhado, o pensamento da abundância em contraposição ao da miséria. Nesta visão, tenta-se ganhar o máximo, a despeito das questões éticas relacionadas ao processo e das conseqüências sociais advindas desta lógica, no segundo, valoriza-se a grande questão: “O que fazer para todos ganharem?”
Os políticos brasileiros, que vivem sob a perversa lógica do capitalismo selvagem, trariam grande benefício humano à nossa nação se conseguissem pensar em categorias diferentes. Infelizmente acreditam que se as contas públicas “vão bem”, não interessa como andam os empresários e os trabalhadores. Então, para se manter as exigências palacianas, aumenta-se a carga tributária, aperta-se o trabalhador, cria-se um orçamento baseado nas despesas e não nas receitas, e se as despesas aumentarem, basta aumentar o gatilho de um novo imposto sem terem que passar pelo sofrimento de corte de despesas. Ora, tal raciocínio é falho porque não leva em conta o todo. As conseqüências são danosas. Por causa disto, os empresários contratam menos (o que gera menos impostos), a mercadoria deixa de ser produzida (o que representa pobreza para o mercado), e menos pessoas vão comprar (já que não existe trabalho e os recursos desaparecem). Na tentativa de se proteger, o governo vai, numa cadeia lamentável de comandos, limitando os ganhos dos outros e os seus próprios. Quando o empresário não contrata sua mercadoria também não vende, e assim, esta cadeia nada ecológica, que é a economia, é quebrada.
Empresários, em contrapartida, trabalham com a mesma lógica lamentável. Se a economia não vai bem, contrata-se menos, corta-se o salário, demite-se. O resultado é que o empobrecimento da população significa menos mercado consumidor. Gente que não trabalha, consome apenas o básico dos básicos. Falta alguém que possa consumir o produto. Quando alguém empobrece, todos os demais empobrecemos.
Algum tempo atrás ouvi interessante ilustração sobre o inferno e o céu: Certa pessoa chegou ao hades e percebeu que, apesar de haver comida suficiente, as pessoas eram esquálidas e magérrimas porque passavam fome. Por que estavam nesta situação se havia comida suficiente? Porque os braços eram voltados para trás, precisavam de alguém para alimentá-las, mas como no inferno não existe conceito de fraternidade e todos estavam demasiadamente preocupados consigo mesmo, todos sofriam. Quando chegou ao céu, esta pessoa viu que também ali, todos tinham seus braços voltados para trás, mas estavam bem alimentados e felizes. Ali havia fraternidade e solidariedade.
O pensamento de abundância defende que sempre há meios de todos terem bons resultados. Verdadeiros líderes pensam com estas categorias. O Empresário deve pensar em melhorar a qualidade de vida de seus funcionários, não pode ter os olhos apenas para lucros, mas lutar pelo bem estar geral de sua empresa e dos seres humanos. Está provado que um funcionário com uma melhor remuneração produz mais, adoece menos, melhora sua auto estima e criatividade. Bônus inesperados concedidos aos empregadores podem gerar efeitos altamente benéficos para os assalariados. Infelizmente empresários tem pensado apenas no ganho pessoal, tornando-se individualistas e hábeis em dividir prejuízos, mas nunca se mostram prontos em dividir o lucro. Dividem perdas, mas não dividem ganhos.
A empresa que pensa apenas no lucro de capital não é uma boa empresa a longo prazo. Deveria também considerar o lucro do pessoal, pensar de forma mais abrangente, ter uma visão mais ampla do que significa lucro.
Com fazer para todos ganharem? O governo vai ganhar mais se pensar de forma mais ampla, se houver mais recursos disponibilizados para os gastos pessoais. O desejo de aumentar a arrecadação de impostos deve surgir não com o aumento das alíquotas, mas com aumento de produção. Ganha-se mais não com o aumento de taxas, mas com a circulação de mais mercadoria, mais contratação de empregados, isto é, ganha-se mais quando todos ganham.
Empresários ganhariam mais se tivessem funcionários mais satisfeitos, mais realizados como seres humanos, se não tivessem que viver com tanta pressão orçamentária. Assim suas empresas tornar-se-iam mais competitivas e teriam melhores resultados. Todos ganhariam.
A Lei Mosaica, inscrita no Pentateuco, os cinco livros primeiros livros da Lei na tradição judaica, faz importante consideração sobre isto: “Não atarás a boca ao boi que debulha” (Dt 25.4). Posteriormente o apóstolo Paulo amplia este conceito dizendo: “Acaso é de bois que Deus se preocupa?” (1 Co 9.9). Nenhuma pessoa, em sã consciência deixaria de dar boa ração, se possível balanceada, para o animal que tivesse gerando lucro. Mas o princípio deve ir além da visão mercantilista e de produção. Não beneficiar nem valorizar o trabalhador é insano e imoral. A ambição não pode ser dissociada da ética. Uma ética trabalhista deve agir a partir da lógica da abundância e não do pensamento da miséria.
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