Normalmente temos dificuldade de entender soberania, porque não entendemos a condição do homem: radical corrupção.
Pode o homem fazer escolhas morais?
Gardner defende ética como “O estudo crítico da moralidade”[1] Para ele, trata-se da análise sistemática da vida moral, que inclui padrões de certo/errado, escolhas morais práticas e alvos e princípios ideais.
A pressuposição ética básica é “O Homem é livre e responsável”.
Aqui surge o primeiro dilema: O homem é verdadeiramente livre e responsável?
Várias controvérsias surgem aqui neste campo:
1. Controvérsia no campo psicológico:
i. Skinner – Psicólogo de uma linha behaviorista, escreveu um livro chamado: “O Mito da liberdade humana”. O homem seria um ser programado. Ele estaria preso a categorias de manipulação. Não emite respostas livres, mas somos frutos de um condicionamento pavloviano;
ii. Freud: O homem seria presa de seus processos inconscientes. Suas respostas seriam fundamentadas nos seus processos inconscientes. Quem determina minha escolha, se eu sou escravo de forças do Id/ego/superego?
2. Controvérsias no Campo Teológico:
i. Calvino – Para Calvino, só existe um "fazer" humano quando o mesmo é mediado por Deus. O homem vive na dimensão da queda, em sua natureza adâmica, para que uma ética humana e profunda aconteça, é fundamental
"Nascer em nós um desejo de buscar a Deus para recuperar nele o Deus que perdemos". [2]
Por vivermos em nossa natureza adâmica, apenas Deus poderá restaurar nossa imagem caída. A doutrina da Total depravation sustenta a incapacidade moral do homem de responder a Deus, a não ser que Deus inicie um novo processo de restauração moral através do Espírito Santo em nós. Existe uma absoluta ausência de bem moral no homem.
ii. Lutero - “O Livre arbítrio (liberium arbitrium), depois da queda do homem, é uma mera questão de título (apenas palavras): Desde que o homem faça o que está dentro dele, cometerá sempre pecado mortal…livre, ele é apenas para o mal…por isso Agostinho diz: “O Livre arbítrio sem a graça apenas outorga poder ao pecaminoso[3] (…) “O homem sem a teologia da cruz, faz do melhor, um péssimo uso”.[4]
iii. Satanização – Não é muito raro, nos círculos evangélicos, vermos pessoas satanizando seu processo de escolha. O diabo passa a ser responsável por todas nossas escolhas morais, ele é o culpado. Por isso, ao invés de confrontarmos o pecado humano, e exigirmos uma resposta ética às nossas atitudes, satanizamos nossos conflitos. [5]
3. Controvérsias no campo filosófico e literário–
i. Rousseau – No seu clássico: “O contrato Social”, inicia fazendo a seguinte afirmação: “O homem é livro, mas em toda parte encontra-se a ferros”.
ii. Graciliano Ramos: “Liberdade completa ninguém desfruta: Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem política e social. Nos estreitos limites que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”[6]
Retomamos à questão inicial: Seria o homem um ser livre? “A não ser que ele seja livre em sentido bem real, não pode ser considerado responsável por seus atos, e se não é responsável por esses atos, não há sentido em falar deles como tendo significação ética”.[7]
Ética pressupõe Liberdade e Responsabilidade. A atividade moral moral é inevitável enquanto o homem permanece homem.
[1] . Gardner, E. C. – Fé Bíblica e Ética Social, São Paulo, ASTE, 1965, pg. 19
[2] Calvin, Juan – Institutas de las religiones cristianas. Livro II, cap.1 & 1, pg. 161.
[3] . Gottffried Fitzer O que Lutero realmente disse, São Paulo, Civilização Brasileira, , pg. 29
[4] . Fitzer, op. Cit. Pg. 31
[5] . Ler o livro: Antes de amarrar satanás de Elber Lens César.
[6]. Graciliano Ramos - ” in Memórias de Cárcere
[7] . Gardner, E. C., 1965 – pg. 19