Eu não sou obtuso nem ignorante, nem negacionista ou anti-científico, mas como teólogo e homem de fé, essa frase acima tem me causado profunda inquietação e vou dizer porquê. Acho que, ao colocarmos nossa confiança na Ciência, podemos deixar de depender de Deus. Dessa forma, podemos transformar a Ciência em um ídolo e colocarmos Deus em segundo plano. Vale lembrar que o primeiro mandamento condena exatamente a atitude de transformar Deus em algo secundário, e não a prioridade em nossa vida, pois diz: “Não terás outros deuses diante de mim”.
Podemos, perigosamente, deificar, idolatrar e sacralizar a Ciência, que também possui suas lacunas e contradições. A bem da verdade, muitas vezes a Ciência se vende nos altares do sucesso, da ganância, da riqueza e do poder. Ela deixa de ser neutra para servir determinados interesses pessoais ou políticos.
O Dr. Paulo F. Ribeiro, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, professor em universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, afirma que, como cientista e cristão, não vê incongruência entre fé e Ciência, mas em seu artigo Em quem confiar: na Ciência ou na Fé? (Revista Ultimato, 20 de Maio 2020) levanta alguns questionamentos:
1 - Nem tudo o que é científico é necessariamente verdade. Ele cita A Teoria da Deriva Continental considerada provável em 1912 e que depois foi tida como completamente "errada" em 1940. Em 1950 tornou-se finalmente verdadeira, quando novos fatos e novas explicações se tornaram geralmente aceitos;
2 - Nem tudo o que é verdade é necessariamente científico. O mundo ingênuo dos sentidos não é menos real do que o mundo da física. "Os sentidos também têm sua verdade" (Kepler).
3 - Nem todas as disciplinas científicas atingem o mesmo grau de certeza ou objetividade. Mesmo na Medicina, temos ainda muito o que aprender devido à complexidade do ser humano;
4 – Muitas vezes, devido à falta de dados precisos e à complexidade das questões, a comparação de modelos puramente científicos pode gerar uma não objetividade na certeza de suas efetividades.
C. S. Lewis afirma que o ponto de vista puramente científico não pode conter todas as verdades, nem mesmo inteiramente a própria Ciência porque ela está em constante movimento e é dinâmica em sua essência. Por isso confiamos na Ciência, mas não desprezamos a fé que é transcendental.
O Profeta Jeremias afirmou: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico, nas suas riquezas. Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor” (Jr 9.23,24). Na hora da dor, da aflição e da desesperança nos recursos humanos e na própria Medicina, ainda podemos crer em um Deus de milagres, que sempre está acima da Ciência.
Nossa confiança não pode repousar na ciência que também possui suas limitações. O Salmista diz: "Elevo os olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O Meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra". A ciência e a pesquisa é uma benção, mas nossa salvação não se encontra nela, mas em Deus.