A Responsabilidade é pessoal
Ezequiel 18
Introdução
Este texto é fundamental para entendermos a responsabilidade pessoal que cada um tem diante de Deus. Ele destrói alguns conceitos equivocados sobre maldição hereditária, tão apregoado no Brasil nas décadas de 80 e 90. Ele assegura que, por mais que creiamos na doutrina do pacto geracional ou pacto das alianças, ser cristão não é uma questão de nascimento biológico ou hereditário, cada um precisa tomar sua posição, e ele nos reafirma a importância de manter uma vida de continuo temor e piedade diante de Deus, e por fim, nos mostra que “com Deus não se brinca, pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará”.
Ele estabelece algumas leis fundamentais na relação do homem com Deus. Podemos extrair do texto pelo menos cinco leis:
Primeira Lei, ninguém é responsabilizado pelo pecado do outro. “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio dizendo: os pais comeram uvas verdes , e os dentes dos filhos é que se embotaram” (Ez 18.2).
Havia na mente de Israel esta falsa ideia, de que os filhos estão assim por causa dos pais. Eles tinham até um provérbio: “os pais comeram uvas verdes , e os dentes dos filhos é que se embotaram”. Deus então vem se interpor a esta linha de pensamento afirmando que a responsabilidade é individual.
Esta lei quebra o errôneo conceito da maldição hereditária. É muito comum pessoas atribuírem comportamentos e vícios que atravessam gerações em uma família, a uma suposta maldição, que precisa ser quebrada com rituais feitos por pessoas espirituais que possuem determinados dons especiais de libertação.
Muitas pessoas, já convertidas, sofreram muito com esta doutrina. Se o avô de uma pessoa foi macumbeiro, logo, mesmo convertido a Cristo, certamente a sina da macumba está sobre sua vida e aquela pessoa ainda está debaixo desta força espiritual herdada da família.
Por outro lado, se meu avô era adúltero, e meu pai também foi infiel, isto significa que paira sobre a minha ascendência familiar, um poder que pode me levar também a ser adúltero. Ou se há ladrões na família, gente mau caráter, posso ainda estar debaixo desta maldição.
A resposta bíblica a isto pode ser dada em algumas direções:
A. Maldição e benção são termos teológicos. Portanto, só o mundo espiritual pode atribuir tal sentença.
B. Uma pessoa nascida de novo, começa um novo ciclo de vida espiritual diante de Deus. “Aquele que está em Cristo, nova criatura é, as coisas antigas passaram, tudo se fez novo”(2 Co 5.17). Se tudo se fez novo, logo, o convertido foi lavado pelo sangue de Cristo, e uma nova realidade surge na vida pelo poder do Espírito Santo que habita em sua vida. Ninguém pode ser novo convertido e ainda assim estar debaixo de uma maldição.
C. A atitude de espiritualizar comportamentos, retira do homem a capacidade de assumir responsabilidade sobre seus próprios atos. Muito do que fazemos, é fruto de decisões equivocadas e atitudes que assumimos. Não podemos culpar o diabo quando a culpa é nossa.
D. A obra de Cristo, quebra o ciclo de comportamentos e atitudes familiares. “Sabendo que não foi por ouro nem prata, que fostes resgatados do vosso fútil comportamento que vossos pais vos legaram”. (1 Pe 1.18). Nosso coração tende para a futilidade, e nossa tradições familiares igualmente tendem para o vazio. É o orgulho, a lascívia, uma vida distanciada de Deus, a avareza, etc., mas o sangue de Cristo é capaz de começar uma nova história.
Segunda Lei, o que conta não é como você começa e sim como você termina. “mas desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade... na sua transgressão com que transgrediu e no seu pecado que cometeu, neles morrerá” (Ez 18.24).
Não existe um momento da vida em que alguém possa dizer: “Ok, já tive uma vida de moral inquestionável e agora posso relaxar”. Não, o prêmio não é dado para aqueles que começam bem e interrompem a carreira no meio. É preciso perseverar.
Não existe trégua nem férias. Não há possibilidade de construir um currículo tão sólido que dê salvaguarda para afrouxar a diligência e a vida de santidade. O justo não pode descansar no seu histórico de boas realizações e imaginar que, pelo tanto que fez, não há necessidade de fazer mais nada.
Jesus foi muito claro ao afirmar: “Aquele que perseverar até o fim, este será salvo” (Mt 24.13). A vida cristã não é uma corrida de 100 metros rasos, mas uma maratona. O que conta não é como você começa, mas como você termina. Infelizmente na Bíblia, segundo Robert Clinton, 2/3 dos líderes terminaram mal sua trajetória. Começaram bem, mas falharam. Alguns no meio da caminhada, outros no final. Saul começou com uma unção especial de Deus com derramamento de óleo da unção, quebrantado na presença de Samuel, chegando até mesmo a se fundir aos profetas de Israel e terminou seus dias de forma patética, consultando uma médium e suicidando-se.
Terceira Lei, conversão e retidão devem ser contínuos. “Convertei-vos e vivei” (Ez 18.30).
Para quem esta mensagem está sendo dirigida? Não aos pagãos, mas ao povo de Deus. É preciso se converter, não apenas no momento inicial, mas constantemente à Deus.
Quando Martinho Lutero afixou as 95 teses na Catedral de Wittemberg, em 31 de Outubro de 1517, sua primeira tese tem a ver com arrependimento dos cristãos: “A vida dos cristãos deve ser de continua penitência”. A palavra penitência seria melhor traduzida para nossos dias por arrependimento.
A verdade é que um dia nos arrependemos dos pecados que cometemos contra Deus, de nossa rebeldia, e até mesmo da nossa justiça própria, de achar que poderíamos ser salvos por nosso esforço e currículo espiritual. Nos convertemos das nossas boas obras para salvação, para a obra plena de Cristo, que assumiu nosso lugar na cruz. Mas esta conversão inicial é apenas o inicio. Diariamente precisamos nos arrepender, trazer nosso coração à submissão à Cristo.
Por esta razão, conversão deve ser algo constante. Vida de arrependimento e volta à Deus, continuamente.
Quarta Lei, sem novo coração e novo espirito, é impossível agradar a Deus. “Criai em vós coração novo e espirito novo” (Ez 18.31).
O problema é que somos incapazes de nos convertemos de fato a Deus. Mudança de coração não é obra humana, nem resultado da capacidade de qualquer pessoa em uma transformação radical. É obra de Deus. É o Espírito Santo que faz. O próprio Ezequiel vai descrever como isto é possível:
“Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porem dentro de vós, espirito novo, tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porem dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.25-27).
A obra é Deus. Sem a obra maravilhosa de regeneração realizada pelo Espírito Santo, somos incapazes de responder a Deus como convém. Esta é a essência do evangelho. De dentro para fora. De Deus para nós. Tudo começa em Deus. É monergismo. “Não que por nós mesmos sejamos capazes de fazer alguma coisa como se partisse de Deus”.
Jesus afirma que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Quem opera o novo nascimento é o Espírito Santo. Ore para que Deus lhe dê uma nova natureza. Para que ele lhe conceda coração novo e espirito novo, tire o coração de pedra e conceda um coração de carne. Porque sem um novo coração, não podemos agradar a Deus.
Quinta Lei, Deus certamente julgará. “Portanto, eu vos julgarei, a cada um, segundo os seus caminhos” (Ez 18.30).
Há sempre o perigo de sermos enganados como Eva. Satanás insinuou: “Pode transgredir que não haverá juízo. Vocês não morrerão!” Nada acontecerá a vocês. Eva achou mesmo que poderia se rebelar contra Deus sem sofrer consequências.
Sempre existe a possibilidade de assumirmos uma atitude equivocada em relação à santidade de Deus. De pecar sem sermos descobertos. De ignorarmos os sinais de sinalização dados por Deus.
“A alma que pecar, esta morrerá” (Ez 18.20). Em alguns versículos adiante, o texto ainda é mais enfático: “No seu pecado que cometeu, neles morrerá” (Ez 18.24).
A ideia do julgamento de Deus e do seu juízo é impopular. As pessoas gostam de pensar em Deus como amor, bondade, misericórdia, mas não gostam de considerar que ele é o santo juiz, que julgará os povos com equidade. Mesmo as pessoas que negam a justiça de Deus são as primeiras a reivindicarem a justiça humana, levantam bandeiras contra a injustiça em suas diversas manifestações., mesmo sabendo que nossos sistemas judiciais são falíveis e carentes de integridade, muitas vezes atendendo a interesses políticos. Por que não haveríamos de ansiar pela justiça de Deus, que estabelece sua verdade sobre a vida de todos os homens?
Conclusão
Este texto fala-nos da responsabilidade pessoal que cada um de nós tem diante da vida e diante de Deus. Somos muitos hábeis em nos justificarmos diante das pessoas, a pleitearmos inocência em muitas situações, ou até mesmo acharmos que a culpa é de nossos pais. Mas devemos lembrar que a responsabilidade é individual. “O pai não levará a iniquidade dos filhos, nem os filhos a iniquidade dos pais” (Ez 18.20). Cada um de nós deverá responder diante de Deus pelas decisões assumidas e atos praticados.
O problema é que nenhum de nós pode pleitear justiça diante de um Deus santo.
“Seria, porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem puro diante do seu Criador? Eis que Deus não confia nos seus servos e aos seus anjos atribui imperfeições; quanto mais àqueles que habitam em casas de barro, cujo fundamento está no pó, e são esmagados como a traça!” (Jó 4.17-19)
Um dia teremos que comparecer perante o tribunal de Deus. Mas o que temos a apresentar a Deus? Nossas listas de boas obras são marcadas por imperfeições, motivos torpes e gananciosos, auto promocionais.
A única forma de nos apresentarmos diante de Deus e sermos isentados, é com a justiça de Cristo. Ele nos substituiu morrendo na cruz em nosso lugar. Ele assumiu nossa vergonha e culpa. Ele nos lavou por seu sangue. Minha responsabilidade é pessoal, mas Jesus, assume meu lugar e me representa diante de Deus.