quarta-feira, 27 de maio de 2015

Corrupção


Poucos temas no momento são tão debatidos e comentados como a corrupção institucional. Os sucessivos escândalos do Mensalão, Petrolão, Lava Jato, operação Zelotes, só lembrando os mais recentes, não nos deixa esquecer que vivemos numa série crise de honestidade.

Desde os tempos da monarquia, porém, este assunto tem vindo à tona. Recentemente o empresário Ricardo Semler, causou grande discussão nos meios jornalísticos ao afirmar que “nunca se roubou tão pouco no Brasil” (Folha de são Paulo, 21.11.2014). Ele afirma que na década de 70, sua empresa deixou de fornecer equipamentos para a Petrobrás, porque era impossível vender diretamente, sem propina, e que atualmente 0.8% do PIB brasileiro é roubado, mas que este número já foi de 3.1%, e alguns estimam em 5% há poucas décadas. “O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento”, diz Semler.

É muito comum ouvir a afirmação: “rouba, mas faz!” Na verdade, político corrupto não faz. Para os que acreditam que a desonestidade compensa, considere o ranking de 2011 dos países mais e menos corruptos. Na medida em que há menos desonestidade, há maior progresso. Os países mais corruptos são, pela ordem: Somália, Coreia do Norte e Mianmar. Do outro lado, os mais honestos são Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia. Basta olhar o Índice de Desenvolvimento Humano destes países para perceber que quanto mais maior é a corrupção, maior é a pobreza. O Brasil ocupa a 73º lugar, no ranking mundial.
William Douglas afirma que alguns acreditam que as pessoas destes países são integras, porque não precisam cometer fraudes nem roubar, mas a verdade é que uma das razões porque eles são desenvolvidos é justamente a baixa corrupção.

Por causa da corrupção no Brasil, emprega-se produtos de péssima qualidades na construção das ferrovias e rodovias do país, os preços se tornam super dimensionados, as escolas são de qualidade ruim, a merenda é subtraída, a saúde perde recursos preciosos que poderiam ser usados apropriadamente. A verdade é que a honestidade não é consequência, e sim uma das causas do subdesenvolvimento.

Corrupção não é um fenômeno recente na sociedade, se o fosse a Bíblia não falaria tanto sobre o assunto:  Ela afirma que a corrupção tira a razão – “Verdadeiramente a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração” (Ec 7.7); Alguns funcionários públicos que vieram a Jesus lhe perguntaram: “Mestre, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não peçais mais do que o que vos está ordenado” (Lc 3.12-13). Soldados vieram a Jesus: “E nós, o que faremos? Ele lhes disse: A ninguém trateis mal, não deis denúncia falsa, e contentai-vos com o vosso soldo” (Lc 3.14); Aos juízes Deus ordenou: “Não torcerás a justiça, nem farás acepção de pessoas. Não tomarás subornos, pois o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos” (Dt 16.19-20) e advertiu: “O ímpio aceita o suborno em secreto, para pervertes as veredas da justiça” (Pv 17.23).


Poderíamos citar outra dezena de textos sobre o assunto, mas acho propício concluir com um dos dez mandamentos: “Não furtarás”. Pelo que sabemos, até hoje, a validade deste mandamento não expirou. 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Resiliência




O termo resiliência é emprestado da física e aplicado à psicologia humana. Na física se refere à capacidade dos materiais de resistirem aos choques e à pressão, mas retornarem ao seu estado anterior, mesmo depois de terem sido submetidos a estresse. Um exemplo disto é um tapete felpudo que quando pisado é amassado, em seguida volta ao seu estado natural.
Nas ciências humanas esse termo representa a capacidade de sobrevivência a perdas e traumas, quando mesmo diante de uma aguda pressão e angústia, determinadas pessoas são capazes de reconstruir a vida.
Resiliência pode ainda ser traduzida ainda como  estoicismo,   superação,  resistência e  recuperação. Pode se referir à capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos e resistir à pressão, situações adversas e extremas como o estresse, sem entrar em surto psicológico.
Saber enfrentar dificuldades é uma habilidade que deve ser desenvolvida. Diante das adversidades, todos podemos sofrer reveses e fracassos, ficarmos desencorajados e nos sentirmos ameaçados. Pessoas sem resiliência implodem e entram no estado de apatia, enquanto os resilientes sobrevivem, refazem suas forças  e saem incólumes. A mesma situação é catastrófica para alguns; para outros, no entanto, transforma-se em aprendizado. “Quando sopram os ventos da mudança, alguns constroem abrigos e se sentem seguros; outros constroem moinhos e ficam ricos” (Claus Möller). No fim das contas “Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades” (Epicuro). Uma antiga máxima diz: “O mesmo sol que derrete a cera endurece o barro”.
Na vida é preciso desenvolver a resiliência para conseguir ultrapassar fases. O parto é uma experiência traumática e dolorida, mas aponta para a vida em sua potencialidade; sair da adolescência para a fase adulta gera angústia, mas traz maturidade; sair desta fase e ir para velhice, é outra significativa mudança, cuja transição precisa ser feita com coragem e celebração. Quem não tem resiliência é chamado de "homem de vidro", pois se quebra diante de qualquer pressão. Muitos desmoronam por pouca coisa, outros são sempre pegos pelo óbvio da vida. Alguns se deprimem porque está chovendo, o filho vai viajar, precisam mudar de faculdade, levaram o fora da namorada, estão com gripe.
A verdade é que não adianta brigar com problemas. Se não os enfrentarmos, seremos destruídos por eles.
A resiliência não nega o estresse. Na física estes objetos são pressionados e marcados, mas tão logo o fato que gera o estresse é removido, sua natureza retoma ao que era anteriormente. Eles não ficam deformados porque pressionados, antes cedem sob pressão para, em seguida, retornarem à sua condição natural.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Simplicidade de fé


David Wilkerson, conhecido por seu estrondoso ministério entre gangs do Brooklyn em New York, relata que seu trabalho alcançou enorme projeção mundial com o livro “Entre a cruz e o punhal”, que apenas na década de 1970 vendeu 18 milhões de exemplares, no qual relatava a dolorida realidade das pessoas viciadas em droga e como alguns destes jovens foram libertos pela oração e volta a Jesus. A partir daí, milhares de pessoas, imprensa, organizações eclesiásticas vinham ao seu encontro e queriam convidá-lo para dar palestras e contar suas experiências. A revista Time, o New York Times. O Daily News publicaram artigos a respeito do seu trabalho e foi entrevistado em muitos programas de rádio e TV.

Um dia, porém, um homem de origem chinesa o deteve na rua e lhe deu o seguinte recado: “Moro em Hong Kong, mas o Senhor me pediu para lhe dar um recado simples. O Senhor está dependendo demais de si mesmo, e não está dependendo mais de Deus. O Senhor perdeu a simplicidade”. Quando Wilkerson quis se defender e se tornou reativo, o homem afirmou: “Não estou preocupado comigo mesmo, choro por você. O que eu precisava dizer, eu disse”. Virou as costas e foi embora.

Ele tentou ignorar aquele homem, mas aquilo o incomodou. Apesar de seu padrão de vida não ter mudado muito, ela agora tinha uma casa mais bonita e um carro melhor, ele passou a considerar sua vida, e chegou à conclusão de que havia perdido a simplicidade da fé. O problema era mais profundo que a questão material, era algo na alma.

Tenho percebido muito claramente como podemos nos tornar sofisticados na questão da espiritualidade. A fé simples, que alimenta a alma, tem se transformado numa busca confusa e atabalhoada de outros elementos que não são essenciais. Nos tornamos inquiritivos, questionadores, filosóficos, mas perdemos a essência de que vida cristã que não é a guarda de ritos complexos, nem manuais elaborados ou fórmulas sagradas. Vida cristã é o simples relacionamento da criatura com o Criador, de uma alma que tem sede com aquele que pode saciar. Do homem desorientado que encontra sentido e direção na pessoa de Jesus de Nazaré. Temos perdido a capacidade de ser simples.

Não seria isto que Jesus queria dizer ao afirmar que se não nos tornarmos como uma criança não seremos capazes de ver o Reino dos céus? Jesus chegou mesmo a colocar uma criança no meio dos discípulos para chamar-lhes a atenção. A criança crê genuinamente, descansa nos braços do pai de forma tranquila, porque confia no pai. Não deveríamos também, da mesma forma, termos atitude semelhante com o Pai celestial?


Precisamos descomplicar. Nos tornamos sofisticados e elaborados demais, mas estamos cada vez mais secos, vazios, exigentes. Transformamos nossa história numa vida de exigências absurdas, necessidades criadas, e estamos perdendo a capacidade de viver de forma espontânea, celebrativa e natural.