quarta-feira, 3 de maio de 2006

TRABALHO

Em torno da idéia do trabalho nasceram muitas piadas, uma delas diz: “na hora de comer, comer; na hora de dormir, dormir; na hora de trabalhar, pernas para o ar, porque ninguém é de ferro”. Uma outra é descrita assim: “Às vezes me dá uma vontade de trabalhar, aí eu fico quietinho até a vontade passar”.De fato, muita idéia errônea foi construída em torno do trabalho. Aristóteles chegou a afirmar que o trabalho deveria ser deixado para os escravos e este conceito penetrou no mente européia por anos, até ser desafiada pela Reforma no século XVI.
No entanto, a doutrina da criação, registrada inicialmente no livro de Gênesis, inclui dentre as tarefas humanas o trabalho, e isto antes da queda da Raça humana. Ainda no Éden Deus disse ao homem: “Tenham domínio sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais do campo” (Gn 1.26).
A idéia de domínio não era a de exploração, mas acima de cuidado e proteção. Ao homem foi dada a tarefa de dar nome aos animais e de cuidar do jardim (2.20-21).
Isto demonstra que o Trabalho não estava associado à maldição, mas como parte intrínseca da tarefa de ser gente, de expressar sua humanidade. “Este ensinamento percorre todo o Antigo Testamento e culmina em Jesus, que era um homem trabalhador antes de se tornar um pregador itinerante” (Samuel Escobar). O povo judeu tinha um provérbio que era repetido de pai para filho: “Quem não ensina ao seu filho uma profissão, faz dele um ladrão”.
Os males que rondam o trabalho devem ser avaliados e discutidos: Karl Marx denunciou o desequilíbrio econômico afirmando que a maior mazela social tem a ver com a exploração da classe burguesa ao desvalorizar o valor humano do trabalho. Marx se referiu ao conceito da “mais-valia” que se dá pelo fato do trabalhador não ser valorizado pelo que fez. Este princípio é profundamente atualizado ainda no nosso mundo carregado de injustiça e opressão contra o trabalhador.
A Bíblia também denuncia severamente o trabalho opressivo. Ela nos ensina que Deus ouviu o clamor dos israelitas escravizados no Egito. Tiago denuncia a exploração da mão de obra, e os baixos salários, de uma forma que nenhuma ONG poderia dizer de forma mais apropriada e contemporânea: “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamor dos ceifeiros penetrou até os ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tg 5.4).
Tanto a Reforma religiosa do Século XVI, com João Calvino e Lutero, quanto os Puritanos, procuraram associar o trabalho à vocação, demonstrando que ele era um instrumento de benção, não de opressão. Esta visão ajudou a formar a sociedade industrial Européia.
Quando o trabalho encontra este sentido da sacralidade e é descrito com um bem supremo ou vocação as coisas passam a ser feitas com maior sentido, porque são realizadas antes de tudo para Deus. Se é dramática a situação brasileira com remunerações indignas, igualmente o é fazer o trabalho de forma negligente quando se lesa o empregador com uma baixa qualidade de atividade e descaso, mesmo quando se trata daquilo que é público. Por ser vocação o trabalho traz realização e nos torna plenos naquilo que fazemos.