Segundo uma notícia veiculada nos principais jornais do país. Glória Perez, dramaturga e novelista de América, teria ficado muito chateada porque o beijo homossexual anunciado para o horário nobre da Televisão brasileira não aconteceu.
O problema para mim nunca foi a questão do beijo em si, mas o que esta cena representa: Existe um forte desejo de se transformar o certo no errado e o errado no certo, ou de se acabar com o conceito de certo e errado, portanto, antes de ser uma questão ético/moral, que foca nos comportamentos sociais e culturais, o problema é filosófico, isto é, tem a ver com a essência da vida.
C. S. Lewis, conhecido escritor inglês, professor de literatura medieval em Oxford, no seu último livro da série Nárnia, “A Batalha Final”, cria um episódio no qual os bichos da floresta aguardam a anunciada chegada de Aslam, o grande e respeitado leão, que representa a figura divina, mas como este demora, um macaco (símbolo do mal), pede ao jumento (Tacha), que se cubra de uma velha pele de leão e faça uma imitação barata de Aslam. O Jumento de início reluta, fica temoroso das consequências desta atitude, mas resolve seguir as instruções do macaco. O princípio filosófico era: “Daqui para frente vamos acabar com esta idéia de antítese: Não existe nem Tacha, nem Aslam, apenas o “Tachaslam”.
Uma sociedade que destrói seus fundamentos morais corre sério risco. E é isto que me assusta. Fico temoroso dos produtores que se encontram nos bastidores. A moral você vê, julga, interpreta, avalia, mas a filosofia por detrás da cena, nem sempre é perceptivel.
O salmista afirma: “Ora, destruidos os fundamentos que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3). Este tipo de atitude enfraquece o alicerce no qual uma sociedade é construída. Por ser um problema de filosofia, quebra-se a espinha dorsal da ética, já que esta decorre daquela. Sem parâmetros a sociedade tenta reinventar-se tomando decisões e posições que custam caro aos indivíduos, à familia, às igrejas. Desfazendo os pilares morais, não deveríamos estar muito impressionados com a facilidade com que a mentira e a corrupção tem assumido forma de pandemia e endemia em nossa sociedade política.
Por isto o profeta Isaias afirma: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem mal: que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo!” (Is 5.20) Quem pode afirmar que determinada coisa é doce ou amarga, se os fundamentos e valores foram todos anarquizados?
Quando morava em New Jersey, EUA, um fato acontecido perto de nossa cidade chocou-nos bem como a toda opinião pública. Um garoto do Ensino Médio engravidou sua namoradinha da escola, uma cena relativamente comum e corriqueira. Mas eles decidiram ocultar a gravidez e matar a criança tão logo nascesse. E foi o que fizeram...
Um psiquiatra, com muita perspicácia e acidez, analisando esta brutalidade, e vendo aqueles meninos de classe média, gente pacata, com comportamento tão bizarro afirmou que eles reproduziram o que criam: Matar uma criança através do aborto tem sido sempre defendido nas escolas e mídia americanas, qual era a diferença para aqueles garotos, se a morte era de um feto ou de uma criança recém-nascida?
Filosofia antecede ética. A questão não é o beijo, mas qual é a cena por detrás do beijo.