quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Fonte de Confusão

Jean Jacques Rousseau, educador que influenciou todo sistema pedagógico no mundo ocidental afirmou: “Tudo é bom ao sair das mãos do criador, tudo degenera nas mãos dos homens: - (O homem perante a vida”, pg. 60). Apesar de saber que Rousseau não é uma boa referência de espiritualidade, é bom perceber que ele mesmo se assusta com a complexidade da alma humana. Mário Quintana, com sua poesia refinada, faz uma ácida afirmação, dentro de suas categorias evolucionistas: “O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro”.
A torre de Babel em Gênesis 11 descreve a confusão humana. Não apenas da dimensão psicológica, mas também na comunicação que se perdeu no esforço arrogante da humanidade. A fonte da confusão se dá por que o homem se perde na sua desenfreada luta pelo poder, estando implícitos, alguns elementos subjacentes: Domínio, controle e manipulação.
Os homens se uniram para exercerem controle sobre os céus. A busca da unidade não era para a construção de uma sociedade mais justa, mas para o exercício de sua rebeldia contra a divindade. “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos celebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda terra” (Gn 11.4). Mais uma vez está subjacente a idéia de que Deus precisava ser substituído pela ação humana. A velha teonomia, ou auto suficiência do homem (Henry Nouwen), exercida inicialmente na queda da raça humana em Gn 3, se atualiza.
Aqui está a fonte básica da confusão. Nietzsche, o filósofo louco denuncia isto no seu pessimismo: “Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são auto-dirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor próprio. Cave mais profundamente e verá que não os ama, ama sim as sensações agradáveis que tal amor produz em você. Ama o desejo não desejado”.
Por isto é que nossa identidade como discípulo de Cristo não está alicerçada no exercício do poder. William P Young, no seu livro “A Cabana”, coloca as seguintes palavras na boca de Deus: “Minha identidade não se baseia em desempenho e eu não preciso me encaixar nas estruturas feitas pelos humanos. Eu tenho a ver com ser”... Ser meu seguidor não significa tentar “ser como Jesus”, significa matar sua independência.
Nossa saúde e coerência encontra-se na ambigüidade da doação e serviço. Neste binômio espairece toda confusão, e a ordem de Deus retoma à nossa existência.